Poucas coisas dão tanta fome quanto o exercício. E é natural que seja assim.
Afinal, quando perdemos água ficamos com sede, porque não ficaríamos com fome quando "perdemos" calorias? No entanto, a sabedoria convencional é a de que precisamos criar um défcit calórico, ou seja, não apenas deveríamos fazer mais exercício, mas ao mesmo tempo comer menos. Pense um pouco: qual a chance de isso dar certo? Qual a chance, no logo prazo, de que alguém com fome vá ter energia para se exercitar, ou de que alguém que se exercite consiga comer pouco, continuamente, por anos? Já ouviu falar em homeostase?? O nosso corpo buscará o equilíbrio, com mais fome ou mais "preguiça".É evidente que existem inegáveis benefícios à saúde com a prática regular de exercícios. Não é disso que estamos falando. O fato é nunca tantas pessoas fizeram tanto exercício, nunca houve uma proliferação tão grande de academias, nunca tantos aparelhos de exercício foram vendidos, e nunca tivemos tantos obesos. O exercício físico simplesmente não parece resolver o problema, ao menos para a maioria das pessoas. As evidências? Há uma metanálise finlandesa, do ano 2000, sobre 12 estudos avaliando o exercício como mecanismo de perda de peso. A conclusão? O exercício não teve efeito sequer para previnir ganho de peso, e em alguns estudos acelerou este ganho em relação ao grupo controle. Leia também: Dieta: Por que comer menos não funciona?
Um estudo de 2006, da Universidade da Califórnia em Berkeley exemplifica a situação. Foram estudados 13.000 corredores, que foram cuidadosamente acompanhados para comparar as distâncias percorridas por semana e o peso no decorrer dos anos. Os que corriam mais tendiam a pesar menos no início do estudo (correlação, não necessariamente causa). Contudo, TODOS tendiam a ganhar peso a cada ano que se passava, mesmo os que corriam mais de 40 milhas por semana. Os autores, que acreditavam no paradigma do balanço calórico, afirmaram que, para manter o peso, os corredores deveria aumentar em algumas milhas por semana a sua quantidade de corrida a cada ano. Se fôssemos levar às últimas consequências este pensamento, uma mulher de 20 anos que corresse 3 milhas por dia 5 dias por semana, teria de aumentar para 15 (quinze) milhas por dia 5 dias por semana para manter, aos 40 anos, o peso que tinha aos 20. O absurdo de ter de correr uma meia-maratona 5 vezes por semana para manter o peso é mais um motivo para questionar se é realmente a falta de exercício que leva ao acúmulo de gordura com o passar dos anos.
A falha de pensamento neste caso é acreditar que a o gasto calórico induzido pelo exercício não será inconscientemente compensado pelo aumento da ingesta. Seria como supor que, após suar bastante, não haveria um aumento da sede. Além disso, exercício moderado queima uma quantidade irrisória de calorias.
É necessário subir 20 lances de escada para queimar as calorias de uma fatia de pão. E o que garante que uma pessoa que decida subir 20 lances de escada todos os dias, não vá sofrer um diminuto aumento de sua fome, equivalente a uma fatia a mais de pão em 24 horas?
Jose Carlos Souto: Médico urologista, formado em 1993 pela UFGRS, com pós-graduação em patologia experimental na FFFCMPA e nos EUA. Atualmente com interesse especial sobre a interface entre nutrição e saúde, após constatar que as orientações dietéticas tradicionais (pirâmide alimentar, etc), não são baseadas em ciência e em evidências, e produzem mais malefícios do que benefícios.
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